Para Walt Whitman e sua gotinha.
Grãozinho
Um grânulo-deserto no vão vento
Viaja pelo céu cosmopolita,
Não foge à sua sorte, lhe credita,
É feito um passarinho sem talento
Vagando pelos olhos de um por cento
De ser inconsequente. Não se irrita
Com o caos que vem do seio dessa grita,
Destino de viés, contentamento
De bússola desnuda de uma agulha.
O grânulo de mim que te repousa,
Qual pólen que de súbito zás-trás!,
Instaura a primavera, desembrulha
Coisinhas multicor e, insano, ousa:
Assim é que esse grão se satisfaz.
(Obs.: a concordância em "Coisinhas multicor" foi esteticamente proposital).