terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Dos oclinhos


Ao espelho, me pergunto. E pergunto mais, quem é/sou? 43 anos... e o primeiro par de lentes artificiais... Confesso que tenho um pouquinho de receio. Sei, sei, sei, 1,25 no direito, apenas 1 no esquerdo, só para leitura, mas eu tenho o direito ao receio... receio-medo-pânico. O sr. oftalmo não mentiu, que era apenas o começo. Em termos estatísticos, para não fugir dos números, afirmo, 99% do meu prazer provem dos olhos. 43 anos, estou morrendo...
Mais uma coisa, por que vocês continuam lendo - com seus óculos ou nus de vista - um cara assim, em estágio pleno de decrepitude e que - fico pasmo com isso! - só sabe compor sonetos? Já sei, morrerei na dúvida. Fiz, portanto, o soneto abaixo para A Maior Tragédia do Mundo!





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Dos oclinhos

Odeia a concretude que se fez.
Detesta tanto a luz quanto o calor.
Não quer nem ter virtude e polidez,
Detona com a conduta de valor.

Valores se consomem, vão de vez
Ao vil do que perece com palor.
Extrema-unção para o Universo, um ex...
Começa pela vista com bolor,

Não ler seus prediletos com prazer,
Forçar seus dois olhinhos, mas não ver.
Desiste assim da luta: “Já não vejo!”.

Os graus, seus artifícios à mercê,
Atendem ao devir, “Voilà, monsieur!” ,
E a quem o ver destina o seu desejo.

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