Poética
Não prezo quem me lê, por ele cago.
Meu texto é o meu prazer e é solitário.
O preço que exigir, vou lá e pago.
À merda todo o resto literário.
No livro, um ideal? Senta no nabo!
Nas letras, todo o céu? Só se for vário!
Que a arte é social? Vai dar o rabo!
O autor tem seu papel? De salafrário!
Laboro uma poética de pronto,
verídica e sem lastro de frescura,
inábil para flores e descontos.
É tara porque dana com a censura;
é rara porque chega sempre ao ponto;
é, pois, literatura cara dura.
Do soneto
Com métrica e com rima é que proponho
restrita solução para o problema
que vem da poesia; como um sonho,
demanda a meu engenho por sistema
perfeito que conceda ao que componho
clareza e concisão, seguindo o lema
dos clássicos com classe, e não o bisonho
que trava a solavancos seu poema.
O método operando por estilo;
a forma se amoldando para a meta;
ideias se articulam; e eu prometo,
seguindo para o fim, pelo destilo,
na trilha de elegância deste esteta,
a verve envelhecida do soneto.