terça-feira, 21 de julho de 2009

Angélica


Angélica

"Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda."
Gregório de Matos


Desejo, por um anjo, o que me é dado:
a morte do desejo que se doa,
um anjo que por mim foi desejado.
Não seja, porque esbanjo o dom à toa.

Eu tanjo o meu cordame de coitado,
com o peito condoído, que destoa
do tom, em desacordo ao acordado.
Da corda vem o sangue que me escoa.

É a pena angelical que me depena
do bem e de meus bens, e já não tarda
não prive mais do mal que me condena.

Eu creio que me resta com que eu arda
solando nos infernos, numa cena
ao anjo do desejo, que me guarda.



Esse é apenas um ensaio, uma imitação tosca de alguns artifícios usados pelo poeta barroco Gregório de Matos. Não há nesse poema a mínima originalidade, ínfima fímbria d'arte não há, hausto d'engenho tampouco. Apropriando-me do título de um livro do filósofo romeno, de expressão francesa, Emil Cioran, trata-se apenas e tão somente de um de meus inumeráveis "Exercícios de admiração".
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