segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Casa da Poesia

Shiva meditando... - imagem in AJA

A guizo de intróito, apresento um excerto da produção de ZANTONC, denominada Invocabulus, e convido todos a visitarem o seu excelente blogue (considerado de extremos!), o POEMARGENS - http://poemargens.blogspot.com/

ZANTONC é José Antônio Cavalcanti, do Rio, poeta, contista e professor. Mestre em Cîência da Literatura sobre a poesia de Cacaso e doutorando com pesquisa sobre a narrativa de Hilda Hilst.

Invocabulus (excerto)

Palavra. Substantivo hipotético. Não é vocábulo, nome, termo, conceito ou qualquer definição conhecida. Autotélica e tautológica forma do nada, do qual emerge como fratura e suicídio. Ver: Wittgenstein, Beneviste, Guimarães Rosa, a Bibla (não encha o meu saco, ortografo como quiser).

Poesia. Substantivo indeterminado. Algo que impulsiona a pro-dução, poiésis. Paradoxo: o incriado criador que produz aquilo em que não pode ser encontrado, pois nele não reside. Passagem em múltiplas formas e suportes, ainda hoje há quem acredite em sua sobrevivência como energia criadora ou fantasma. Ver: sei lá, liga a televisão.

Poema. Substantivo em extinção. Arquitetura insuflada pela anima da poiésis. Espécie de inutensílio costurado por espaços inúteis e signos absurdos para gáudio de esnobes e narcisos. Espelho de poetas que dispensa a imago de leitores. Ainda que extintos, sobrevivem ferozes e falaciosos no mínimo círculo de seus iniciados. Ver: Concretismo, Ponge, e. e. cummings, Apollinaire, Arnaldo Antunes. (serve também qualquer poeta de botequim).



Casa da Poesia

"Yoga Citta Vritti Nirodha" - sutra de Patanjali

"E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...

"Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma." -
Alberto Caeiro

Pensava-me poeta de primeira
Grandeza, poetaço, que domina
As regras de retórica, rumina
Seus temas à exaustão de cumeeira.

Ousava a frialdade bem sem eira
Nem beira, produzindo adrenalina
Sintética ao suor da disciplina
Do gênio que são feras à coleira.

Ó pá!, mas os meus versos, nenhum boom,
Ao pó!, feito uma estrela à decadência
Se dando para o pântano-bodum.

Lamento, que fui grão, sem ser essência.
Que triste não viver como um comum.
Que triste não saber da florescência.
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