domingo, 14 de dezembro de 2008

Mãezinha

Mãezinha,

a senhora nunca precisou me perdoar.
O perdão era mais uma de suas práticas humílimas e, de certa forma, até invasoras. O perdão feito um artefato de usualmente, todos os dias, o dia todo, de minúscula formiguinha franciscana. Imperceptível. Imperceptível.
Só hoje percebo o quanto de desobediência havia na sua ética. Ética de fêmea. Você me acolheu em seu útero, né? Depois fabricou um mundo estrangeiro onde eu pudesse ser feliz.
Mãezinha, você morreu. O seu filho, entanto, não voltou do estrangeiro para enterrá-la.
O seu filho a trouxe para si.
Obrigado pelo leite, cara.

H.

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