quinta-feira, 26 de março de 2009
Dois poemas acerca do sexo
(Preâmbulo: um cálice de vinho, uma lua perfeita na moldura da janela, a minha mão no seu cabelo e o vestuário na dispersão... )
Do sexo
É o corpo, pelo dúbio complemento,
Um ímpar para par, por sobre a cama,
Entregue por inteiro. Sumarento
Licor inebriante se derrama
Aos lábios da secura do momento:
Do plúvio, uma bombástica auriflama,
Eflúvio pelo bélico sangrento,
Dilúvio para músculos em chama.
É o corpo pelo, pele e todo o resto,
A face do Divino meio freak,
Disfarce para o vinho que se traga.
O barco pelo mar ao manifesto
Do breve temporal, liquidifique,
É o corpo uma tragédia que naufraga.
A coisa da luz
A coisa que fazemos com a luz
Acesa, se apagarmos, recompensa:
Seria uma outra coisa, menos tensa;
Mais tesa, com certeza, porque induz
Ao livre na conduta sem tabus,
À franca joie de vivre da pertença,
À jóia que está dentro e se condensa
Ao curso de estocadas - e transluz.
A coisa gostosinha e delicada
Se torna pelo breu selvageria,
De bichos rabichados por seus amos.
A coisa é tão cretina e tresloucada,
Que os homens se desalmam pela cria,
E nós nos, animais, deliciamos.