terça-feira, 2 de junho de 2009

BRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR



Invernada

Um ócio gostosinho paralisa.
À fome quadruplica-se a gordura.
Nariz, vermelhidão pela coriza.

Dois olhos lacrimejam à gastura.
Confesso que detesto: traumatiza
a têmpera ao revés, desestrutura.

Brrr! Ai! Lã, moletom, nem estilista
calhorda se dá conta do vazio,
que é plena tremedeira no que é vil
debaixo da coberta jornalista.

O gelo nos atinge pugilista,
parece por vingança prato frio,
os dedos são cadáveres: um fio
de fuga pela espinha que se dista.


Hecatombe

O tempo não dá, porque a dor
nos ossos da cripta do lombo
do cara de bruços do tombo
tirita sob quilos de ardor.

Da cama desiste, calor
nenhum, nem a febre aos escombros
heróicos... O sol causa assombro
e o caos mitifica o tremor...

Ao nimbo de sonhos amargos,
por mares em ondas de mal,
os nautas no rumo de Argos:

o frio destrói-lhes a nau,
o frio nos cornos anarcos,
o frio na carne infernal.



Mais dois pontos:
1. não importa se 2009 é, oficialmente, o Ano da França no Brasil, porque nesse momento a dor é universal;
2. postei, abaixo, La femme chocolat, na interpretação impecável de Olivia Ruiz, para diminuir o frio e os casos de anorexia.
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