«O soneto é uma casa poética. Em nenhuma outra forma fixa o lirismo sabe conter-se tão amoldado, tão justo na medida que o veste e tão livre nos movimentos de respiração e de gesto que lhe apontam o exterior de que é abrigo e olhar. Medidas e casas são gosto e desejo de cada um, mas sempre se pode determinar o maior ou menor espaço que delimita o canto habitável e a maior ou menor folga que define a propriedade ou o empréstimo. Formas de rigor no estar livre, em suma. Com as adaptações subjectivas que sempre condicionam a liberdade dos outros (a do género) pela nossa e lhe conferem o rigor do exacto momento que vivemos. Assim o soneto, depois da grande fortuna clássica e simbolista que soube conquistar, se vê preterido pelas formas anárquicas da des-“ocupação do espaço” contemporâneo, num sistema de substituições[…]».
Mª Alzira Seixo, Discursos do Texto,
Amadora, Livraria Bertrand, 1977, pp. 283-284.
de Rogério Skylab
disponível no blogue Godard City
http://godardcity.blogspot.com/
Mª Alzira Seixo, Discursos do Texto,
Amadora, Livraria Bertrand, 1977, pp. 283-284.
de Rogério Skylab
disponível no blogue Godard City
http://godardcity.blogspot.com/
Isto aqui não é um soneto
Isto aqui não é um soneto
(estamos num sítio arqueológico).
Ruína de uma forma poética
surgida na Renascença.
Forma esvaziada, de cuja estrutura
temos uma longínqua idéia.
Isto aqui não é um soneto,
nem sua réplica.
Uma carcaça carcomida
que um guia turístico informa
pertencer a um antigo soneto,
escrito por Petrarca, Shakespeare ou Luís de Camões.
Exposto a visitações públicas num blog,
essa forma espúria é retrato dos tempos.
Soneto ao sonetista
Cansei deste poeta, sonetista,
que vive dando pinta no seu traço,
que saco!, de que estampa como artista
o selo dos abismos do fracasso!
Talvez se ele se desse em haicaísta,
de físsil marginal no descompasso
de estêncil, o seu ofício piadista,
com versos miniminhos... poetaço?
Mais fácil fosse um fóssil de concreto?
Panela, panelinha, panelão,
em eixo Rio―Sampa―Beagá?
Teórico feérico e indiscreto,
traduz a poesia do Ceilão?
Letrista macarrônico? Sei lá!