sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Das sereias



Alamares

A seiva cristaliza, pedraria,
Resina do velame em verde mar
De jade e de esmeralda a tornear
O vaso com o licor da poesia.

A nave e seus estames em Omar,
Autor do Rubaiyat, que sevicia,
Por lauta cerimônia de ambrosia,
Por faltas, em essência, a quem amar.

O verde sobre e sob não domina,
Que o sangue se rebela no cinema
Das líquidas auroras leoninas...

Sereia d'arrecifes, d'alçaprema,
Assaz desassossego d'anilina,
Tragédia que conquista a alma suprema.



Sereia

O som meio sonâmbulo vicia,
Assoma ao seio bambo do covarde
E a cisma que atravessa principia
Tormentas. A sereia e seu alarde

Alarmam por amor à poesia
Das lágrimas no peito de quem arde
No frio de uma fossa à salsa via,
Sargaços e moréias, em um mar de

Indolentes afazeres: imersão...
O som, o som, o som, o som, o som,
O som vem sibilando como fachos,

Um lume que impressiona e faz pressão,
A música-farol serpeia com
A nau que é contra a rocha, para baixo.



Canção marítima

Escuto uma canção de algum lugar
E, junto, o coração em alvoroço,
Eu ouço, mas não posso com o pescoço
O risco do recife eliminar.

Sereia, em seu dulcíssimo cantar,
Nas pedras que se escondem ao insosso
Marujo, que se encanta para o fosso,
No barco embebebado pelo mar.

O mito se revela no meu imo,
O mito não nos mente se nos lemos,
Ensina-nos Ulisses do perigo.

Que a voz azul desliza pelo limo,
Converte-se em um monstro por extremos
E encontra nos abismos seu abrigo.



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