terça-feira, 22 de setembro de 2009

Arábias



pés descalços
crisântemos amarelos
montanha ensolarada

- três versinhos da lírica


Arábias

1.
Tecida na luz macia, define seus movimentos nas firulas do sol uma película cigana. Um setembro que se ilumina e sustenta as promessas feitas ao sêmen do sr. Helianto. Um setembro para acariciar o tempo que insiste em preencher de flâmulas umedecidas aos seus cavaleiros de pólen.

2.
Pedimos perdão pelo vinho das aves aduncas, por seu azedume tinto. Perdão pela navalha em desvario, Senhor! Ofertamos a Vós tudo o que nos provê de ingenuidade primitiva. Ofertamos um pires com gengibre ralado.

3.
A esperança se compromete a longo prazo com os clichês de paz e amor e deslumbramento. Ainda que nos reste apenas uma côdea bem pequenina de pão integral, eu te amarei e nos pacificaremos. Assim é que todos os mitos do mundo, principalmente os eróticos, apreciam o nosso desapego. Suspirinho...

4.
Não nos iludamos, porém, porque tentarão nos secar em todos os humores e não nos oferecerão vapores d’água tampouco balões do mais puro oxigênio. Apenas nos ofertarão um cachorrinho-robô de madama, duas balas de menta com formigas e uma quantidade bastante desejável de opióides. Devemos, paixão de todos as minhas existências, preferir o sangue dos mártires e os pulmões depurados a tantos artifícios.

5.
À noite fui dormir com minhas barbas completamente encanecidas... Eu tive um pesadelo. Mas, quando acordei, percebi que minha vida só teria sentido na eternidade que nos infantiliza, por isso abri um buraquinho na caixa toráxica da Primavera e nos joguei naquele escaninho denominado Mandala do Sonho: pés descalços, crisântemos amarelos, montanha ensolarada...


Share |