Bretagne - par BZH2O
Três sonetinhos da Bretanha
À arte da vitimização
Sou vítima do pai, meu grande amor.
Sou vítima da mãe, foi invejosa.
Sou vítima de irmãos, ai, que temor!
Sou vítima de um céu sem cor-de-rosa.
Legítima na dor em mal me quer,
E querem mais um trisco, os idiotas,
Do bem que me domina, de um qualquer,
São todos exigindo suas cotas.
Seus toscos!, seus encostos!, seus zumbis!
Me picam por nadicas, pela troça,
E ficam tão felizes por um bis,
Um terno de tragédia casca-grossa.
De quatro dispuseram-me em quitute.
Aos quintos, seus glutões, por meu desfrute!
Desejos
Mulheres vitimizam-se ao desejo,
desejam, como vítimas da sorte,
que o golpe dos algozes, como vejo,
derrube-as ao abisso, para a morte
pequena, consentida com manejo.
Não vejo o tal desejo na consorte.
Reclama até da cama (percevejo?),
nem beijo, nem chamego, nenhum norte.
O alfanje é como um anjo para uma.
P'ra minha, nem se finge se eu cortá-la.
Pelejo, mas já sinto que se esfuma
meu sonho de agressor. Mais não se fala.
Perguntam se a desejo, ou que se suma?
Desejo, sem contudo desejá-la.
Hagiografia
Compor, a circunstância assim o exige,
No mínimo um soneto de Bretanha,
Um texto que mereça a quem se aflige
Com o látego nos ossos que se entranha.
Opor-se não se deve porque é erro,
É voto de seu clã de pecadores,
Martírio que lhes filtra por aterro
O pó de seu pretérito de horrores.
Espíritos se movem irrequietos
Ao ritmo de ritos ancestrais,
Pungindo mais e mais tataranetos,
Ou outros mais distantes, mais e mais...
Eu sofro, mas suporto até o fim.
Do clã, sei que sou vítima de mim.
*** Moacy Cirne publica-nos em nosso Balaio Vermelho.