quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Das chuvas em Veneza

 
Rain in Venice - by  Ohbuddy

Toró

2010 diz que é recorde em plúvio.
Uma tragédia esse aguaceiro tanto.
A bússola é demente ao helianto,
Em busca sai, do Sol, pelo dilúvio.
E as frutas e as verduras e os legumes
Afogam-se no campo feito mar;
Quem planta não pretende reclamar,
Semeia novamente por um lume.
E a vida das pessoas tão humanas
Desmancha-se engelhada no penico,
Em ágata e ferrugem, como um tico,
Titica com xixi. Não há hosanas.
     Dos gritos ao silêncio, o mesmo coro.
     Acaso. Não é caso de mais choro.


AMBAV (Associação de Moradores do Bairro Veneza)

Aboio de sofás do lanterneiro,
Do frila, da vovó a dormitar -
Enquanto o seu pretinho foi catar
Latinhas e bagulhos por dinheiro.

São dez as prestações por liquidar
Os móveis no preju do Zé porteiro.
É chuva de europeu o mês inteiro.
Meu Deus, o que vai ser, no que vai dar?!

O barro que não dorme é bem à beira.
Um bairro só de laje e cumeeira.
Barquinhos de papel a naufragar...

Mas, antes, a velhinha no barreiro.
Mas, antes, o menino no bueiro.
Quem manda se ligar a esse lugar?!


***
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