Rain in Venice - by Ohbuddy
Toró
2010 diz que é recorde em plúvio.
Uma tragédia esse aguaceiro tanto.
A bússola é demente ao helianto,
Em busca sai, do Sol, pelo dilúvio.
E as frutas e as verduras e os legumes
Afogam-se no campo feito mar;
Quem planta não pretende reclamar,
Semeia novamente por um lume.
E a vida das pessoas tão humanas
Desmancha-se engelhada no penico,
Em ágata e ferrugem, como um tico,
Titica com xixi. Não há hosanas.
Dos gritos ao silêncio, o mesmo coro.
Acaso. Não é caso de mais choro.
AMBAV (Associação de Moradores do Bairro Veneza)
Aboio de sofás do lanterneiro,
Do frila, da vovó a dormitar -
Enquanto o seu pretinho foi catar
Latinhas e bagulhos por dinheiro.
São dez as prestações por liquidar
Os móveis no preju do Zé porteiro.
É chuva de europeu o mês inteiro.
Meu Deus, o que vai ser, no que vai dar?!
O barro que não dorme é bem à beira.
Um bairro só de laje e cumeeira.
Barquinhos de papel a naufragar...
Mas, antes, a velhinha no barreiro.
Mas, antes, o menino no bueiro.
Quem manda se ligar a esse lugar?!
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