sábado, 6 de março de 2010

Diálogo de olhares

 
mojajaja - by demi-vampire

A morcego

Escrava residente no meu ego,
Ao crivo dissidente não me omito,
Ao cravo de seus dentes eu me entrego,
Meu sangue o dessedente, que eu permito.

Impune sairá com seu sossego
E farto, com engulhos de vomito.
Humana com manias de morcego
Transformo esse hematófago num mito.

O mito me transpõe para o que é mais,
O mais é para sempre, e não jamais,
O mais é o meu país e paraíso.

Sou cega porque sigo pela luz,
Exata como Deus, como Jesus,
À flor do que não vejo: o bem preciso.



Dialogando com os clássicos

4. Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira.
5. Toda primeira leitura de um clássico é na realidade uma releitura.
(Duas das propostas em Por que ler os clássicos, de Italo Calvino.)

Os óculos, parceiros de leitura,
Não se cansam dos clássicos, vão lendo,
Relendo... Para ler literatura
De prima se precisa não de adendo,

Que dentro dos primeiros a escritura
De fogo e sua luz estão ardendo:
Num misto de frescor e de gastura,
Os olhos no gozando condoendo.

Rendamo-nos ao velho congraçado!
O grau vai aumetando para lentes
E espíritos, e tudo é tão menor...

Entanto nas letrinhas do passado
Os péssimos educam-se excelentes
E o mísero gradua-se Grão Mor.


***
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