sexta-feira, 29 de abril de 2011

aquarelas

Vênus Rosa - Milton Dacosta

1.

duas pinceladas
abóbadas

cravejo-lhes a dentadas o que merecem
mamilos


2.

da nascente ao mar
o verde em torno

do mar ao céu
azul


3.

não se pode permitir um acaso
e outro?
um ponto perdido na tela
absorve-se em propósitos

o segredo
o toque da fêmea
a língua nos dentes


4.

os pigmentos se misturam
abstraem-se
caos &
nirvana


5.

pergaminho
dissolver-me em água
sal suor esperma

saciamento


6.

da mais ingênua
técnica de embromar
anjinhos pentelhudos no jardim de infância
aos cromos de blake

aquarelas em sua essência
são lágrimas
e secam


7.

para sangue
procure experimentar os seguintes pigmentos
fúcsia alizarina-crimson vermelho e amarelo cádmio
ah acrescer um nada de azul ultramarino
e uma pitadinha de gengibre em pó


8.

um detalhe
paleta aqui
diverge

o cuspe é a goma ideal
porque gosma

há outros ingredientes viscosos
no seu ateliê
musa
mas é quase impossível
não levá-los à boca

mais um detalhe
seus cabelos são a crina
deste meu sonho líquido
cavalgando sem rumo

*** a aldemir martins, a milton dacosta, a todos os mestres da aquarela
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