Illustration by Arlene Graston
Vivi alguns anos em Natal, Rio Grande do Norte. Primeira vez que sorvi algumas gotas da água do mar e falei o óbvio "é salgada!". Meus pais e irmãos mais velhos se riram. Morei lá, durante um tempo, no bairro de Ponta Negra, bem próximo da praia de mesmo nome. Eu era um adolescente e o mar me deixava feliz...
Hoje estou bastante longe, materialmente, do mar. Hoje percebo, porém, que a experiência marinha está dentro de mim.
Tentei traduzir isso, embora intraduzível por meio de palavras.
O verso
O mar fez um convite e lacrimeja,
Desejo que me aceite domicílio
Por sempre, por eterno, por que veja
Dos ângulos profundos, como um filho
De fôlego sem fim. Bendito seja,
Salobro como sêmen, o concílio
Da vida que celebra e que viceja
Na sopa d'oceanos de fervilho.
Concorda-se em solícito o convite,
Desdobra-se em mercês ao litoral,
Não há que se recuse e que se evite
Nem mesmo os abissais em água e sal,
As trevas penetrantes de rebites
E espetos, pelo verso universal.
Gota serena
Mergulha ao mar de agulhas, roseiral,
Engulhos, mais agruras, com vontade
De morte, que nem tenta passional
Um crime contra a atenta potestade,
Netuno, O Rei dos Verdes. Abissal,
Em água, medo e sal, toda a verdade
Da vida se esvaindo pelo mal,
No sangue que, tingido a tom de jade,
Atinge a identidade do verdugo.
Transforma-se na gota em que o poeta
Distingue-se, indistinta de seu bem.
Se mar, ou maresia, não há jugo,
Cativa que se livra pela meta
De ser mais uma gota, pois, amém!
Hoje estou bastante longe, materialmente, do mar. Hoje percebo, porém, que a experiência marinha está dentro de mim.
Tentei traduzir isso, embora intraduzível por meio de palavras.
O verso
O mar fez um convite e lacrimeja,
Desejo que me aceite domicílio
Por sempre, por eterno, por que veja
Dos ângulos profundos, como um filho
De fôlego sem fim. Bendito seja,
Salobro como sêmen, o concílio
Da vida que celebra e que viceja
Na sopa d'oceanos de fervilho.
Concorda-se em solícito o convite,
Desdobra-se em mercês ao litoral,
Não há que se recuse e que se evite
Nem mesmo os abissais em água e sal,
As trevas penetrantes de rebites
E espetos, pelo verso universal.
Gota serena
Mergulha ao mar de agulhas, roseiral,
Engulhos, mais agruras, com vontade
De morte, que nem tenta passional
Um crime contra a atenta potestade,
Netuno, O Rei dos Verdes. Abissal,
Em água, medo e sal, toda a verdade
Da vida se esvaindo pelo mal,
No sangue que, tingido a tom de jade,
Atinge a identidade do verdugo.
Transforma-se na gota em que o poeta
Distingue-se, indistinta de seu bem.
Se mar, ou maresia, não há jugo,
Cativa que se livra pela meta
De ser mais uma gota, pois, amém!