Tia Odete
Que o diga o mundo e a gente o que quiser! - Florbela Espanca
Que tédio! Uma tragédia se repete...
Fofocas no velório sobre herança,
Apostas sobre o próximo que dança,
Pagando dez por um p'ra tia Odete.
O mal põe sua boca no trompete,
A chuva de serpentes que se lança
Com botes e boatos não se cansa,
Veneno, melodia, canivete...
Extrato mais humano de inocente,
Que trata ao seu do meio pelo médio,
De médio para menos, e nem sente,
De menos para mínimo, despede-o.
Odete ao desemprego não é gente.
Na fila de indigentes... Ai, que tédio!
Serena
Porque o meu Reino fica para Além... - Florbela Espanca
Desdém é o meu de voto para a vela
Que acendo para as trevas quando temo.
Diverte-me o terror que se desvela
Ao leve tremular do que me extremo.
Ungida por meus vícios de cadela,
Recebo presentinhos quando gemo.
Armada a diamantes sou mais bela,
As gemas são grilhões com que me algemo.
Sereia dos abissos dos prazeres,
Rainha do promíscuo nestes seres,
Insiro-me ao Supremo com orgulho.
Imploram-me por mais, por isso treino
Por mais e mais além desse meu reino;
D'alcova para a cova, pois, mergulho.
Muda
Silêncio, meu Amor, não digas nada! - Florbela Espanca
De dentro que não, eu não ditarei
As regras para teu comportamento.
Entranhas para fora, mostrarei
As unhas com meu sangue, e não, lamento.
Não quero um pedacico, me cansei,
Prefiro, na tristeza, a que é de nada
À bisca por um cisco de "não sei,
Sei lá, quem saberá da abandonada?"
É reino sem rainha nem um rei,
Condão sem ladainha de felizes...
Do que me vem aos lábios calarei,
Do mel que é de teus lábios, e não dizes...
Mas não me melarei numa blasfêmia,
Que sou, com meu silêncio, tua fêmea...
*** VIEIRA FILHO dialoga com meu haicai em The lair of seth-hades.