sexta-feira, 19 de novembro de 2010

fogo



fogo

            p/ elizabete burkhardt

de
talhes
& entalhes
uma composição delicadamente espontânea
indisponível para a carvoaria
para a lida na lavoura sol a sol
suplícios do fogo
carne latejante
uma pele de quem nasceu para sussurrar a brisa da ásia
o vapor das arábias
uma alma assim entre brâmane e dervixe
uma dúvida?
algo estranho que desafia
os filamentos da lâmpada
que se rebentam das sementes de mostarda
nômade sob sua tez
um depósito de beijos e de incensos tudo
o que não se possa definir de forma assertiva...
a noite ainda que fosse a última pediria 748 vezes
748 por mais e mais noites porque a lua
desatina ao seu corpo
cândida
o meu fígado flambado no estranhamento repito
e os olhos pesando cerca de trinta peças de ouro
a partir das hélices de sua cabeleira
penso que o universo brilha
por minha deliciosa ceguidade
um beijo dois beijos três e quantos possa
a cama para que seus cabelos corrompam
o limite das trevas
amando você porque desejo luz
vórtices de calcinação
de quem misteriosa reside
em meu fígado flambado em meus olhos pesando
assim introduzo-me pela música de salamandras lascivas
pela profundidade bastante éter
que tenho sede e fome por seus cabelos e
de seus cabelos a liberdade adocicada
orgíaca arcangélica danação
frêmito frêmito sua vida por qualquer
se me proporciona a conflagração do fogo
oh deixa que eu sorva do morno leite
que descamba de sua fonte
leite gengibre e mel
gota a gota
lamento
de dentro do sigilo
a penugem caracol que me elimina a dor severa
e me desencaminha para o perfeito caos

***
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