terça-feira, 19 de julho de 2011

Nhanhã



Nhanhã

"We are slaves to such words, and the mind that is a slave to words is never free of fear."
                                                                             Jiddu Krishnamurti

          Impressão: despertamos unicamente para nos iluminarmos com o matiz, as nuances advindas das flores de um ipê-roxo, pintado sob o bombardeio d'ouro do sempiterno segundo raio, no jardim suspenso do logradouro cama. Isso não nos impede de flatos e eructações, da vontade severa de urinar pela manhã e, quem sabe... Ariamos a dentifrício o branco que há na boca. Cobiçamos rápido. Rápido o café, a fim de minimizarmos os efeitos da halitose, provocada por cerca de oito horas de jejum. Mas o problema é que suscitamos o devaneio de há pouco, Francis Bacon articulava mais uma de suas telas escatológicas, desestilizando as musas de Fernando Botero. Daí uma síncope, esmorecemos e, desse modo, potencializamos o desejo venéreo. Convidei você para uma rapidinha, porque eu te amo o seu corpo de ninfetita piranhuda, você que consegue imbricar em suas hostes lilith aos arcanos da grande mãe, em letras minúsculas, de gente, e em ductos que nos rendem aos abissais do Supremo.
          O rebento-fêmea retirou-se a fórceps da repugnância que sentia pelas picuinhas do medo, depois passou numa loja de artigos religiosos, comprou uma cabeça de Buda, um coração de Jesus, uma guia de Ogum, embrulhou tudinho na sua inocência e me presenteou.
          A cópula da carne que nos intoxica de Deus não precisa de metáfora.
          Vindo de você, um beijo, um mamilo, um copo de pinga, uma côdea de Éter, uma flor de ipê, um embrulhinho com fezes, tudo me agrada.

*** Acima, cópia de quadro de Fernando Botero
*** "Intoxicar-se de Deus" é termo usual em Shri Ramakrishna.
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