segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Manoel e o Nobel




Manoel e o Nobel

Recursos de estesia e beleléu,
delírios, concisão, maravilhoso
trabalho de artesão no seu papel,
nos livros, poesia como gozo...

Precisa de Nobel, o Manoel
de Barros?, me pergunto duvidoso.
De acordo com o que leio no seu céu,
suspeito que precise do famoso

Nobel. Por precisão? Merecimento?
Não sei se ele precisa, se ele sente,
devido ao que já é, a seu momento

no ponto culminante, reluzente.
Não cabe, nem Nobel tem cabimento,
lhe basta a lucidez de sol demente.

*** Mais Nobel e Manoel aqui.
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12 comentários:

Adriana Godoy disse...

num precisa não, pimenta! mas que seria bom, seria! também não sei o que mudaria... deixa o barros como está, que daí nascem múltiplas poesias, a arte está aí reconhecida e amada por quem teve o prazer de descobrir o barros e suas facetas. beijo, poeta.

Valdir disse...

Não, não vou estragar o seu belo soneto. Mas descobri agora o Rimbaud, e deixo aqui as duas primeiras quadras do seu Première Soirée, tradução de Ivo Barroso. (Puxa, será que dá tempo de eu aprender Francês?)

Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.

Quase desnuda, na cadeira,
Cruzavas as mãos, e os pequeninos
Pés esfregava na madeira
Do chão, libertos finos, finos.

BAR DO BARDO disse...

Adriana,

Nobel no caso seria apenas a confirmação. Mas parece que ele nem disso precisa.

Grato. Beijo.

BAR DO BARDO disse...

Valdir,

Français est une langue très facile.
Manda bronca, meu caro!
(Em último caso, Ivo Barroso é um gênio da tradução - você está em excelente companhia, pois!)

Felicidades!

Valdir disse...

Henrique:

Fiz um comentário à sua resposta à minha provocação no Semanaonline. Mas, pensando bem, ou melhor, perguntando bem, já que sou neófito na Poesia, não ficaria melhor você substituir "sol demente" por "sol poente"? Esta imagem não é ambígua como a outra, e combina perfeitamente com alguém que já está com o pé ali naquela esquina da atual casa do Niemeyer (bom, nada impede que eu - ou você - ultrapasse esse ponto antes do Manoel).

Mas pensei que talvez você tenha achado primeiro o poente, e depois trocado por demente, considerando ser mais adequado a um arrojado poeta moderno.

Quanto ao poema da rã, da árvore, do rio e da coisa, ali toda a "genialidade" do MB consiste em criar 4 frases desastrosas (tanto que as violentou) e depois pegar a primeira, suprimir do conjunto verbal (ex., "começar a gritar") o verbo principal, deixando apenas o auxiliar, e ainda deslexizar o enunciado, trocando o sujeito Rio pelo sujeito Peixe. Quanto às 3 frases seguintes, suprimir mecanicamente (não acredito em delírios do meigo franciscano avarento) os verbos e eventuais complementos verbais.

Com essas supressões, fica igualzinho um improvável poema escrito que vi numa caverna datada de 100 mil anos atrás. Temos então um gênio descobridor da roda quadrada, que já era usada (com resultados sofríveis) naquelas priscas eras pelos nossos dementes parentes sub-humanos. Nem o poema troglodita nem esse do MB me contaram qualquer coisa sobre qualquer coisa. E não me parece que "contar nada" signifique concisão. Apenas impotência (Freud, Adler, Jung).

Nada contra experimentações, mas quem gosta de Poesia quer resultados concretos, palpáveis, inteligíveis. A não ser que seja um porralouca que não vê e não quer ver sentido em nada, e acha algum Manoel para coonestar o seu nihilismo.

Nada contra MB; apenas contra sua poesia.

Eleonora Marino Duarte disse...

Precisa de Nobel nada...

precisa é ter a poesia dele cantada assim, como você fez aqui.


Um beijo.

BAR DO BARDO disse...

Valdir,

vamos lá: respeito sua opinião, embora a mim - e a muitos bons teóricos - pareça uma série de equívocos. Sugiro, se possível, a leitura de um excelente livro de teoria literária voltada para algumas "atualizações" do que se entende por poesia: "Estrutura da lírica moderna", de Hugo Friedrich. Sem um pouco de teoria, fica realmente complicado tecer comentários acerca deste ou daquele autor, embora nem uma teoria seja capaz de interferir na questão denominada gosto pessoal.
Estudei MB numa especialização de Magistério para ensino superior, na área de Literatura. Aprofundei meus estudos em um mestrado em Estudos Literários. Depois de muitas leituras, queimação de massa cinzenta e escritas de cunho científico, cheguei a algumas conclusões. Embora MB não seja o meu autor predileto nem eu lhe faça a defesa intransigente de todos os aspectos de sua poética, como um estudioso de literaturas o considero um excelente poeta, dono de verve, engenho e arte, poeta digno de receber prêmios, até internacionais, sem débito em relação a nenhum dos poetas mais conhecidos do Brasil e do mundo.
No mais, considero também um pouco temeroso selecionar um ou dois poemas de um autor e dessa mínima seleção tentar dissecar toda a sua poética. Pois bem, em parte é isso o que penso.
Quanto a desmerecer uma criação minha, fique à vontade. Sinceramente, para mim é um ganho e tanto, visto que você, meu caro Valdir, até agora foi o único que se dignou a me criticar. Espero que outros leitores, dos poucos que devam existir, também tenham a mesma dignidade.
Abraço fraternal!

- Pimenta

P.S.: A propósito, Barros se utiliza de alguns elementos da poética de Rimbaud, já que você o descobriu e parece estar no gosto dele. E de Rimbaud pode-se afirmar, grosso modo, que é um dos grandes mestres a "contar nada".

BAR DO BARDO disse...

eleonora,

grato pela leitura. beijo.

Valdir disse...

Henrique:

Exagerei, claro. A gente perde um pouco a noção das coisas num país ou numa Internet onde só se ouve, contrapostas ao habitual silêncio sepulcral dos leitores, unanimidades - pró ou contra, todas burras (Nelson Rodrigues). Acho difícil, também, separar o poeta do eu-lírico, mesmo porque utilizo, na compreensão das obras,o critério da "sinceridade", ou seja, se o autor de uma obra tem real interesse pelo tema que ele elegeu como mainstream. Se o interesse é falso ("mercenário" ou diversionista), explica os deslises encontrados.

Mas a sua foi uma belíssima resposta de Professor. Parabéns e obrigado. Vou me aprofundar em Rimbaud e depois revisitar o bardo cuiabano. Enquanto isto, vou hibernar dos comentários deste blog, pois você não deve ser de ferro.

BAR DO BARDO disse...

Valdir,

sua visita e suas palavras são sempre bem recebidas por mim, sinceramente.
Fique na paz.

Abraço!

Adriana Godoy disse...

Ah! Pimenta!
Esse diálogo com Valdir soa interessante, embora não concorde com ele em muitos aspectos.
Não gosto de ficar destrinchando demais um poema; pra mim ele perde o sentido. O interessante, sob meu ponto de vista, é ler um poema e ficar pensando depois, ver o que ficou, ver o que suscita, o que desperta, o que incomoda. Algumas vezes comentei que alguns de seus poemas são incompreensíveis pra mim, mas mesmo assim gosto do jogo de palavras, da riqueza do vocabulário, da métrica e outros tantos aspectos.(embora seja eu adepta dos versos completamente livres). Bom é isso. Bisous

Leo Lamarão disse...

já lhe disse pessoalmente on line em comentario no facebook, o que acho de Nobel, oscar e afins...

mais isso não é pra mim!!!