quinta-feira, 28 de julho de 2011

Jogo de especular


Jogo de especular

            O soldado foi então para os lados obtusos, fingindo-se de toiça, abusando da tática apreendida no quartel, nos dias de campo, e pum!, deram-lhe uma traulitada a chumbo tão certeira na cachola. A partir disso, pelo buraco do trabuco o destemido trêmulo teve que empreender uma espécie de sistema de recompensa. Alembrou-se do vale do café, do Paraíba, dos banhos pelados com a molecada que ainda não se importava com o tamanho do negócio. Alembrou-se das lavadeiras acocoradas incitando desejos, incitando que medissem o tamanho do negócio, manipulassem a textura de suas penugens, o valor agora.
            Um militar sem graduação, aquilo prestes a desconhecido mártir, uma sangueira dos diabos descia, abençoando o seu colo de não muito mais que um efebo. Recebia soldo, tinha que ser herói, porra! Decidiu-se pela relva, aquele leito que forrava os romances indigenistas lidos no Liceu. Tinha tanto descendência germânica, direta, pura, quanto o que há de mais impuro e belo nos batéis da pilantragem. O suor frio lhe banhava todo o corpo, misturando-se ao sangue, como que uma papa bem ralinha de nenê, talvez uma lactação para retribuir o que vivera até então sobre a terra.
          Um jogo de espelhos embaçados, mas que cintilavam abaixo da névoa. Consistia no seguinte o jogo, os espelhos eram os seus olhos e quem o via zoologicamente de fora, a criança. Sorrindo, feliz pelo passeio raro, lacuna de rotina, gazeteio de tédio,  isenção de culpa, filetezinhos de suor nas têmporas. Mamãe, o que é? Ah, filhinho, você nunca viu no porviroscópio do professor Benson um soldado morto? Mãe, ele parece que ainda está respirando. Sei, meu querido, mas ele não passa por mais um sol nem a pau.
            Aí, o recruta multiplicou-se irisado nos fragmentos de luz, quando lançaram uma granada no meio do jogo.

*** Imagem: A Dead German Soldier, in Scraped Links.
*** O "porviroscópio" fica por conta do sr. Lobato.
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